Havia alguma coisa errada, ela sempre acreditou (até então) que algumas pessoas são para sempre como uma espécie de porto seguro e era assim que ele deveria ser para ela, ele: seu pai. Afinal, alguém que vive por nós deveria existir pra sempre não devia? Não que ele não mais existisse, mas sabe como é né? Ela já imaginara, por assim dizer o que viria.
Talvez ela soubesse que essa ausência, ou semi-presença lhe traria incontáveis traumas pessoais, talvez se lembrasse desse momento quando se jogasse de cabeça em seus relacionamentos e percebesse o quanto era sempre dependente, por mais que tentasse parecer dominadora (provavelmente tentando ocupar uma figura paterna que lhe foi recusada por culpa de? De quem mesmo era a culpa disso tudo?). Não tenho certeza mas acho que se ela soubesse o que se passaria nos próximos anos, não seria tão aparentemente resistência, pois transbordaria, choraria, mostraria que não aguentaria, e quem sabe, se alguém fosse o culpado disso estivesse onde estivesse a pessoa a visse chorando, triste e diria: - Ah coitadinha, vamos fazer as coisas voltar a ser o que eram... Mas não, ela não chorou tanto, guardou pra si, e as coisas não voltaram a ser como antes (E isso, sim, ela achou que era sua culpa, e pra ser sincera as vezes acha até hoje).
Mas ela não achou culpados pra tanta coisa, buscou por um tempo, depois como quem cansa de encontrar o amigo imaginário na brincadeira do esconde-esconde, parou.
Já adulta ela busca invés de culpados, respostas que provalmente não encontrara, mas sabe que se quiser (e puder), superar o que passou terá que ser o mais real possível, encarar os traumas e aceitá-los, mas isso não é fácil, não era fácil para uma menina e tenho certeza, continuará sendo difícil para uma mulher, que apesar de todas as experiências que viveu e de todas as dores que sentiu continuava a ser apenas aquela mesma pequena menina que desejaria que nesse “esconde-esconde” com a vida, dentre tumultos e turbulências, doenças e injustiças, peças que a vida prega, bem, no meio disso tudo, ela não queria ter sido justo ela, a encontrada.
Mayara L.
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